Um conto de Natal



Está se aproximando a hora. Está se aproximando o dia. Está se aproximando a festa. A bagunça da cidade que vai crescendo traz irritação a todos motoristas, principalmente aos incrédulos. E traz um fundo de esperança de alguns momentos felizes que serão vividos na noite do dia 24 e almoço do 25. Será Natal.


Há, na grande maioria, uma vontade louca de carregar tudo que vêem nas vitrines. E presentear. E receber presentes, muitos presentes, muito melhores que os que se dá. E ai vem a pergunta: Será isto Natal?


Esta é uma época na qual os ciclistas ficam mais felizes ainda. Enquanto todos estão enlouquecidos no frenesi do Natal, nós costuramos pelo meio do caos e paramos tranqüilos na nossa porta de destino, coisa rara nestes dias. Causamos inveja. Por isto criamos desejos. O desejo que todos tem no fundo de suas almas de ter alcançar liberdade, de voltar a infância e sair livre por ai, vento no rosto, felicidade n’alma. Como ciclistas trazemos no nosso “ser” o real espírito Natalino: um sopro de paz, a vida cheia de felicidade e um toque de criança. Bicicleta traz consigo esta fé.


Tanto tentam vender o Natal, mas não conseguem porque fé está no fundo da alma e não na compra de uma lembrança. Há uma lacuna que o comércio não preenche. Esta Festa remete a esperança do nascimento de uma nova era, mais sábia, justa, equilibrada, digna e isto não se compra na esquina nem se dá de presente. A bicicleta subverte esta forma de pensamento e por isto se transforma em ato de fé.


Este maravilhoso veículo, simples em sua essência com as palavras de um sábio, induz todos a se transformarem em melhores seres, mais calmos portanto mais sábios, mais sadios portanto mais equilibrados, mais dignos portanto mais sociáveis e justos. É a isto que todos os livros sagrados remetem. A isto que a bicicleta nos leva sem que percebamos. Está provado cientificamente que assim o é. Foi atrás disto que os Reis Magos seguiram a luz de uma estrela.


Minha maior dúvida é imaginar qual seria o estilo de ciclista do Menino que nasce nesta noite de 24 de Dezembro. Provavelmente teria uma bicicleta simples e robusta. Cobre correntes, pára-lamas e redinha para proteger suas brancas roupas. Estaria bem rodada, mecanicamente perfeita, mas de aparência surrada. Como não consigo vê-lo como um chato, mas como um “cara” bem humorado, provavelmente teria um pedalar refinado, mas travesso. Imagino o rosto dEle fazendo um down hill no Monte das Oliveiras.


É esta criança que pode nascer dentro de nós neste 24. E sempre, todos dias, todas horas.


Boa parte da humanidade sonhou, quando que Santa Klaus, Papai Noel, nos trouxesse uma bicicleta nova e reluzente. Sonho de criança. Provavelmente ele não o fez porque não conseguiu passar as rodas pela chaminé. Ou porque em país tropical nem chaminé há. Mesmo assim a bicicleta é um presente dos sonhos e milhões de brasileiros ganharam uma com lacinho vermelho e votos de Boas Festas. E tenho certeza que o Menino Jesus recomendaria que a velha ou empoeirada bicicleta fosse dada ao que necessita. Quem a receber dirá só “Feliz Natal”. E assim o espírito da coisa estará fechado. A Fé terá renascido.




Feliz Natal a todos.


Arturo Alcorta

Fonte: Pedal.com.br