REVISÃO COMPLETA



Acompanhamos o serviço
em uma Scott Fx-2

 

Assim como um automóvel precisa de manutenção de tempos em tempos, a sua bike, após alguns quilômetros também necessita de uma paradinha para uma revisão mecânica. As mountain bikes, em especial, exigem uma manutenção mais atenciosa e periódica, pois elas enfrentam lama, poeira e travessias de rios.
O Bikemagazine esteve na Bike Shop Mega Bikers, em Campinas, e conta para você, passo a passo, como é feito uma revisão completa. Acompanhamos a revisão em uma Scott FX-2 ano 2002.


1 - Assim que o cliente chega à loja uma Ordem de Serviço é aberta e as impressões/reclamações do proprietário são anotadas cuidadosamente. O mecânico, antes de iniciar a desmontagem, anda com a bike para perceber possíveis defeitos e barulhos estranhos.



Os eixos, o cassete e
o núcleo são retirados

2 - A bike é colocada em um cavalete especial e o primeiro passo é retirar ambas as rodas e o ciclocomputador.

3 - Os eixos, o cassete e o núcleo são retirados. Em seguida são retirados os pedivelas e o movimento central.


4 - O próximo passo é retirar os freios e os cabos; a mesa (junto como guidão) e a suspensão dianteira. Tudo é colocado em uma caixa, tomando-se o cuidado para não perder as peças pequenas.



O quadro e todas a peças
são lavadas minuciosamente
 
5 - O quadro é então colocado no lavador. O mecânico limpa a relação com querosene e lava minuciosamente cada cantinho do quadro. Uma solução de água + sabão em pó é aplicada para eliminar a gordura do querosene. Todas as demais peças (guidão, mesa, suspensão, rodas, miudezas) são também lavadas da mesma forma.
 
O quadro, a relação e as peças são enxutas com ar comprimido e um pano seco. Nesse momento, o mecânico aproveita e faz uma checagem no estado dos raios e procura por trincas no quadro.
 
6 - Após tudo lavado e seco, é hora de avaliar o estado das peças. Com atenção são examinados a relação - a corrente é medida com um verificador de desgaste - e todos os componentes em que pode haver desgaste: cubos de roda, caixa de direção, movimento central, rolamentos, sapatas de freios, conduítes e cabos de aço. Normalmente, as esferas de aço são substituídas por novas.
 

O desgaste da corrente é avaliado
com uma ferramenta especial
 
Na Mega Bikers, o cliente é informado e consultado para aprovar a substituição de qualquer peça necessária. Transparência é a chave para ganhar a confiança do cliente! No caso da nossa FX-2 o, o rolamento do movimento central foi lavado e lubrificado novamente, pois estava "cantando" por falta de lubrificação. Apenas dois cabos precisariam ser trocados, Todo o resto estava OK.
   

Após a lavagem todas a peças são
inspecionadas e trocadas se necessário
 
7 - Hora da montagem. Os eixos das rodas são montados, lubrificados com graxa Molykote à base de grafite, própria para rolamentos. O cassete foi montado e as rodas foram levadas até um dispositivo especial para a verificação de seu alinhamento.
 


8 - O próximo passo foi instalar o movimento central, tomando-se o cuidado de lubrificar com Graxazul a ponta do eixo e a rosca da tampa. "Isso evita barulhos depois", ensina o mecânico Rodrigo. Os pedivelas são fixados.

Os cubos das rodas, o cassete, a caixa de
direção e os rolamentos do movimento
central são lubrificados com graxa especial

9 - A caixa de direção é montada com uma boa dose de graxa Molykote e a suspensão é colocada após uma aplicação de uma fina camada de graxa no cano. Os freios V-brakes são instalados. Os cabos de freios e de câmbio são lubrificados e instalados nos seus respectivos lugares.

10 - As rodas são colocadas na bike e é realizada uma lubrificação geral na bike. Além da relação, são lubrificados também os pivôs do câmbio e as alavancas de freio e de mudança de marchas.

Nenhum detalhe é
esquecido na lubrificação

11 - O câmbio é então regulado e o ciclocomputador é instalado.


12 - Por último a bike recebe polimento na pintura e o mecânico faz um test ride na rua para verificar os últimos detalhes de regulagens. Tudo ok? A bike é deixada para ser entregue ao cliente.


Para finalizar o polimento
da pintura, além de proteger,
deixa a bike como nova

Os procedimentos acima são também válidos para bikes de ciclismo, triathlon e downhill.

E quando fazer a revisão? Logicamente esta resposta vai depender do uso que se faz da bike. Bikes de ciclismo podem ser revisadas a cada 1500-2000 km. No casa das mountain bikes, o gerente Ulisses Dupas recomenda uma revisão completa pelo menos a cada 600km, ou até antes no caso de trilhas com muita lama ou travessia de rios.


Em geral, as boas Bike Shops oferecem diferentes tipos de revisão - com diferentes preços também - de acordo com a necessidade do cliente.

Revisão básica - lavagem, limpeza e lubrificação da relação, regulagem de freios e do câmbio, ajuste de folgas.

Revisão completa - Tudo o que está incluída na Revisão básica mais: Desmonte de rodas, revisão nos cubos de roda, caixa de direção, movimento central, são retirados todos os cabos (limpeza e lubrificação), alinhamento de roda, reaperto de raios e polimento na pintura.

Revisão full - Para mountain bikes com suspensão dianteira e traseira. O amortecedor traseiro é retirado. As buchas das articulações da balança traseira são revisadas, trocadas se necessário, além de engraxadas os pontos de contato entre a balança e o quadro da bike.

São cobrados à parte revisão do freio a disco, suspensão dianteira ou traseira, bem como as peças substituídas durante a manutenção. O preço vai variar de oficina para oficina.

Sempre é bom observar a qualidade do ferramental da oficina e dos produtos utilizados. Boas oficinas utilizam bons produtos (graxas, lubrificantes, peças de reposição) e e principalmente, são limpas e responsáveis. Peça sempre a nota fiscal do serviço realizado. A garantia do serviço - em geral 30 dias - deve estar registrada na nota fiscal, para eventuais reclamações futuras.

Fonte: bikemagazine


QUADROS DE CARBONO



Profissional ensina 15 maneiras pra prolongar a vida útil do componente


   O paulista Alessandro Augusto, o Nino, é daqueles artistas que não dão o braço a torcer quando o assunto é reparar quadros de carbono. Nino, de 35 anos, conserta bikes desde os 16 anos e é discípulo do lendário Klaus Poloni, construtor e reparador de quadros.



    "Eu parto do princípio que tudo tem conserto, menos para a morte", diz Alessandro, que conheceu Poloni numa fábrica de plásticos em Pedreira, onde residem.

    Nino é um dos únicos profissionais que consertam quadros de fibra de carbono no Brasil. Ambos aprenderam os macetes dessa arte em pesquisas feitas em revistas, feiras, conversas com especialistas e pesquisas em laboratórios de tecnologia.


    A fibra de carbono ganhou rapidamente espaço no mundo das bicicletas pelo seu baixo peso e alta resistência. Fibras de carbono têm características bastante peculiares. Não pegam fogo e são altamente resistentes à torção e tração. Por outro lado, não resistem tanto à compressão.

    "Os componentes que sofrem compressão, têm uma bucha de alumínio ou titânio para suportar essa força. Exemplo: pedivela e ferradura do freio", explica Nino.

    Um exemplo de conserto de sucesso de Nino foi num quadro de fibra de carbono de um atleta paulista que corre na elite do mountain bke brasileiro. Foram necessárias mais de nove horas para reparar três pequenas fissuras: uma no chain stay, uma no seat stay e outra seat tube, próximo ao suporte da caramanhola. Eram trincas quase invisíveis a olho nu.


OS CUIDADOS COM O QUADRO DE CARBONO


    1- O primeiro cuidado é no momento da compra, e isso vale para qualquer quadro. O biker deve escolher corretamente o tamanho, a geometria e levar em conta o uso que vai fazer da bicicleta. Assim, não se deve adquirir uma bike de cross country para fazer downhill, por exemplo.


    2- Evite fazer modificações no projeto original da bicicleta. Mudanças de componentes podem alterar a relação de forças e criar pontos de tensão. Um quadro projetado para utilizar uma suspensão de 80 mm será submetido a forças bem maiores se receber uma suspensão de 120 mm. Isso vale para outros componentes como mesa, garfo, guidão e canote e para todos os tipos de quadros.


    3- Evite que o quadro tenha contato com produtos derivados de petróleo (benzina, tiner, gasolina, thinner, diesel, querosene, óleos etc). Lave a bike somente com sabão neutro.


    4- Proteja o chain stay do lado direito para evitar que as chicotadas da arranquem o verniz que protege a pintura. Sem o verniz, a fibra de carbono lasca e o óleo da corrente penetra pelas microfissuras e, com o passar do tempo, vai dissolver a resina que aglutina a fibra.


     5- Ao notar uma área descascada ou um risco profundo no quadro, proteja-os imediatamente com esmalte de unha ou até mesmo com um decalque adesivo.




     6- Um dos erros que mais danifica quadros de carbono é o excesso de aperto. Tome cuidado com tudo o que tiver contato com o quadro como gancheiras, blocagens das rodas, suportes de caramanhola, suporte do câmbio dianteiro, braçadeira de canote, aheadset, mesa, guidão e caixa do movimento central (usar torquímetro sempre que possível). A regra geral manda apertar o parafuso até encostar no final da rosca e ir um pouquinho mais. Apertos exagerados provocam tensão no quadro.


     7- Deve-se respeitar a inserção mínima do canote no quadro. O canote de selim deve estar pelo menos 130 mm dentro do quadro, ou pelo menos uma polegada (2,5 cm) abaixo da intersecção do top tube com o tubo de selim.


     8- Jamais utilize um canote de selim fora do diâmetro correto. Não use buchas ou calços para compensar a medida e também não "esmague" o quadro com aperto excessivo para prender o canote. Ambos os casos causam tensões no quadro. O canote não pode ter riscos, em especial na horizontal, para não fragilizá-lo e expor o biker a acidentes.


     9- Por motivo de segurança, alguns componentes de carbono têm que ser do marca consagrada. É o caso de mesa, guidão e do canote de selim.


     10- Não use graxa à base de petróleo e de sabão de lítico, pois atacam o verniz. Veja o item 3 acima.


     11- Em suspensões equipadas com steerers de carbono NÃO se deve usar aranhas (spiders) tradicionais. Suspensões com steerers de carbono devem somente utilizar spiders específicos para essa finalidade. Aperto exagerado na mesa, quando o steerer é de carbono, também vai causar tensão no conjunto.


     12- Garfos de carbono de bicicletas de ciclismo requerem muito cuidado no momento do aperto do aheadset.


    13- Muito cuidado com a quantidade de arruelas espaçadoras (calços) do aheadset. Calços demais alteram a altura e criam pontos de tensão no conjunto suspensão-caixa de direção-quadro.


     14- Utilize somente lubrificantes recomendados pelos fabricantes. Consulte o manual do proprietário ou o site do fabricante para ver se o quadro resiste a um determinado agente químico.


     15- Componentes de fibra de carbono como guidões, mesas e canotes têm vida útil relativamente curta. Verifique no site do fabricante qual a durabilidade do seu componente. Não é raro ouvirmos de guidões e mesas que quebraram sem prévio aviso.

O PROCESSO DO REPARO



   "O conserto num quadro de carbono tem que ser o mais evasivo possível. O ideal é consertar sem interferir na estrutura do que já existe", ensina Nino.



   Para cada tipo de avaria existe uma (ou mais de uma) técnica de reparo. Uma pequena trinca pode consumir até dez horas de trabalho. "Ás vezes demora mais para chegar à conclusão de como fazer do que propriamente fazer o reparo", explica.


     O primeiro passo é avaliar porque ocorreu o problema. O conserto vai obedecer ao projeto original do quadro e da bike para não comprometer a estrutura. R20;Como sou biker, conheço as forças envolvidas na pedalada.

     "O conserto num quadro de carbono tem que ser o mais evasivo possível. O ideal é consertar sem interferir na estrutura do que já existe", ensina Nino.

     Para cada tipo de avaria existe uma (ou mais de uma) técnica de reparo. Uma pequena trinca pode consumir até dez horas de trabalho. "Ás vezes demora mais para chegar à conclusão de como fazer do que propriamente fazer o reparo", explica.
     O primeiro passo é avaliar porque ocorreu o problema. O conserto vai obedecer ao projeto original do quadro e da bike para não comprometer a estrutura. R20;Como sou biker, conheço as forças envolvidas na pedalada.


   A limpeza do local a ser laminado é o próximo passo. Num ambiente limpo, e usando luvas cirúrgicas, é a vez da aplicação de uma nova fibra de carbono no local afetado. "Uso até oito pares de luva e chego a despender até dez horas de trabalho no processo de laminação".


   O processo de preparação da resina é bastante delicado, pois exige cálculos e uma balança de precisão em décimos de gramas para a mistura. "O material é caro. Para consertar três pequenas trincas eu usei um rolo de 3,5 x 0,70 metros".


     "O processo final de laminação vai depender muito de cada caso. Depende onde foi a quebra ou a trinca no quadro", conclui Nino.